Como é que começaste a trabalhar em joalharia?
Não foi, de todo, a minha primeira opção. Sempre soube que queria algo relacionado com as artes. Sempre adorei desenhar e fazer coisas com as mãos, mas não tenho ninguém na família que tenha sido ourives ou que tenha tido uma ourivesaria. Inconscientemente, a minha a minha avó materna, que é espanhola mas vive cá há muitos anos, era antiquária e, entre outras coisas, comprava peças de joalharia antigas, que estavam danificadas ou inacabadas, para depois transformá-las com a ajuda de um ourives da sua confiança. E depois mostrava-me o que fazia. Eu era pequena, tinha uns quatro, cinco anos, nem me lembro particularmente de detalhes, mas de forma inconsciente aquilo começou a entrar. A minha outra avó, paterna, sempre me levou muito a exposições, e levava-me a um atelier de uma joalheira portuguesa muito conhecida, a Tereza Seabra, que fundou o departamento de joalharia no Ar.cO. O meu avô era médico e trabalhava no hospital São Luís, que era ali ao lado [no Bairro Alto], e a minha avó ia lá regularmente e eu ia muitas vezes com ela. Aquilo fascinava-me e acredito que começou ali, devagarinho, uma interiorização inconsciente.
Quando é que percebeste que era isso que querias fazer?
Não foi logo. Depois fiz o liceu, entrei na faculdade — acabei por ir para Design no IADE — mas foi mais por influência de uma amiga do que por ser algo que ambicionava. Quando terminei, assumi que não tinha grande interesse naquilo e inscrevi-me no Ar.Co. Fiz o curso regular de joalharia, durante três anos, mais um opcional de projecto individual. Quando terminei, decidi ir para Barcelona. Admirava dois joalheiros de lá, enviei um email a perguntar se precisavam de uma assistente para estagiar, porque eu queria muito aprender — e ainda hoje não sei tudo. Há tantas técnicas e isto é um mundo, existem várias especialidades, como na medicina. Há imensas ferramentas... e não se consegue ter tudo. É infindável. Fui um ano para Barcelona e foi uma experiência espectacular. Tenho imensas saudades. Tenho dupla nacionalidade, a minha avó é espanhola, de Bilbau, e sempre gostei muito de Espanha. Depois desse ano, regressei e estive um ano a trabalhar com o Valentim Quaresma, que adorei — é impressionante o que ele consegue fazer e como se consegue reinventar a cada colecção. Fui fazendo as minhas coisas, sobretudo para amigos. No início é difícil, as pessoas ainda não te conhecem e, no meu caso, estava a trabalhar ao mesmo tempo. Se não te dedicas a 100%, que era o que me estava a acontecer, as coisas acabam por não funcionar. Criei a marca em 2012 e os primeiros anos foram difíceis. Só desde há quatro anos é que consigo viver apenas da joalharia.