Feira Feita               Histórias               Feito em Lisboa
Não costuma ser o passatempo que se associa a alguém que acabou de entrar na faculdade...

Estava deslocada do resto do pessoal da faculdade, longe da faculdade de Belas-Artes. O crochet acabou por ser uma parte muito importante — eu andava sempre com saquinhos de lãs. Ia fazendo e comecei, na altura, a comprar revistas e a explorar mais a sério a técnica. Comecei a saber ler os modelos, a ler as descrições, mas sempre a interpretar à minha maneira. Vejo um padrão e inspiro-me, nada mais. Fazia carteirinhas para tudo, basicamente.

Quando é que os fios passaram a ser o teu trabalho?

Na faculdade já utilizava os fios nos meus projectos de escultura. Na altura fiz um trabalho que, hoje em dia, olho para trás e penso "o que é que eu fiz?" — que foi um trabalho em resina que cobri com trapilho. Estávamos em 2008, estava o trapilho a aparecer. Estive os primeiro três anos em Design de Equipamento e depois mudei. Sempre quis ir para Escultura, sempre, mas, no dia em que tive de por as cruzinhas, escolhi Design de Equipamento porque tinha mais saídas. E os meus pais sempre me apoiaram para ir para Escultura, nunca tive qualquer entrave nem nada, mas foi uma coisa que se passou na minha cabeça que ainda hoje não entendo. O Design de Equipamento deu-me uma certa organização e estratégica, planeamento, isso foi importante para a maneira como tento desenvolver os projectos, mas, de resto, não sei o que lá andei a fazer. Acabei por fazer o curso de Escultura e especializei-me em resinas e medalhística. Resinas ainda adoro hoje em dia e da Medalhística gostava da parte mais minuciosa — tanto que, há pouco tempo, voltei a estudar Joalharia. Os fios entraram na faculdade e mais a sério em 2012. Depois, em 2017, começa uma nova fase do projecto, quando passei a fazer peças de cerâmica com crochet (onde já usei fios de algodão, lã, Arraiolos...) e as tapeçarias (que surgiram em 2018). Quando tive o acidente de mota, em que fiquei muito tempo parada, a primeira coisa que fiz foi pedir a uma amiga para me ir comprar uma agulha de Fada do Lar [Punch Needle, em inglês], e começar a explorar. A minha amiga trouxe a agulha e o almoço [ri]. Comecei a explorar sem saber. Foi sempre tentativa e erro, fui vendo e experimentando. O mesmo com os tecidos que utilizava.