Feira Feita               Histórias               Feito em Lisboa

Qual é a mais valia de ter um espaço destes, acessível ao público, e com estas características?

J - A mediação entre a nossa produção, a venda e o contacto com o público é directa. Nós produzimos livremente, e o nosso pensamento é livre, mas há um contacto e uma sensibilidade exterior que é muito interessante. É verdade que as peças nascem de nós, mas a partir do momento em que elas saem e passam para a galeria e para a loja, elas passam a ser também de outras pessoas. Uma vez entrou aqui uma senhora que estava a passar na rua, ela já tinha ouvido falar de nós mas nunca tinha conseguido cá vir. Naquele dia entrou e passou aqui a manhã inteira a chorar. Foi só isso e depois foi-se embora. Nesse momento percebi o que estávamos a fazer. Estamos aqui para falar com outras pessoas...

G - Ela não se expressou mas em cada quadro ou trabalho que via, ia tendo essas sensações. Ficou transparente em relação àquilo que as peças lhe diziam. É uma experiência quase como o teatro: você tem a resposta imediata do público.


Falem-nos das vossas peças. Vão desde relicários a vasos, passando por mesas em madeira.

J - As peças são várias coisas — e têm leituras diferentes para pessoas diferentes. A certa altura pensámos: "O que somos nós?". A oficina é um organismo que tem crescido e se desenvolvido. Nós estamos aqui e somos a cara do projecto, mas a Oficina é um organismo que tem a sua vida. Ela vai-nos ensinando os caminhos e, como qualquer ser vivo, às vezes as direcções mudam.

G - E isso você só sente, recebendo as pessoas. As pessoas vêem uma peça de cerâmica feita e nós estamos a produzir aqui. Elas podem ver como é feito, podem ver um pouquinho deste universo e isso acrescenta valor às peças.