Qual é a importância da manualidade nas vossas vidas?
J - Faz parte de nós a ideia de que a manualidade é importante. E cada vez mais sentimos que o mundo precisa dessa visão do "fazer as coisas", de se compreender o processo e o que está por trás disso. Quando compramos um prato, não fazemos ideia do que está por trás — e mesmo o processo industrial tem coisas que não conhecemos. Aqui podemos falar sobre isso, do tempo e daquilo que pões dentro de uma peça. Hoje consumimos qualquer coisa muito rápido, mas achamos importante consumir com base nessa ideia: como é que a coisa foi feita, quem é que a fez.
Onde recolhem algumas das peças sobre as quais trabalham?
J - Na rua, nas feiras, na praia, nos passeios.
G - É do lixo ao luxo. Os nossos fins de semana são muito recheados. No Domingo, que é folga, os nossos olhos estão mais atentos do que nunca. Queremos ver a praia, as velharias... é um dia intenso, que começa muito cedo e, muitas vezes, passamos aqui na oficina para deixar as coisas que recolhemos. Estamos treinando cada vez mais os olhos para estarmos atentos a possíveis materiais. De vez em quando, vamos à praia e recolhemos uma série de plásticos, outras vezes voltamos com conchas, cordas e paus. Às vezes fazemos visitas a lojas que vendem objectos para bijuteria. Temos fontes muito diversas. Guardamos tudo nestas caixinhas que, na hora certa, iremos abrir.
Existe alguma relação entre estarem no Bairro Alto e aquilo que fazem?
J - O Bairro Alto é fonte de matéria-prima. Quantas vezes estamos a vir para cá e encontramos móveis, cadeiras, caixas, coisas aleatórias que se calhar morreram na sua função inicial mas, para nós, são matéria-prima. O Bairro Alto conta muito na história da Oficina, ela é o que é porque está aqui: está em Lisboa, está neste bairro, tem esta energia.
G - Como ainda é um bairro relativamente preservado e existem muitas pessoas que vivem aqui, esse contacto é muito próximo.