Feira Feita               Histórias               Feito em Lisboa

Como integram o vosso trabalho artesanal na lógica consumista do mundo actual?

J - O mundo precisa dessa análise. Tudo é tão fácil, o consumo é tão imediato que isso não é bom para ninguém, não é sequer sustentável. Nós próprios pensamos sobre isso  — porque todos fazemos parte dessa máquina — , o que podemos travar e tentar fazer de outra maneira. O nosso contributo é esse: fazemos peças, muitas delas com coisas que já morreram e às quais estamos a dar uma nova vida. Reutilizar, pegar em coisas que já existem, consumir de forma diferente, valorizar as peças de forma diferente. Às vezes, temos esse discurso e depois, na prática, fazemos mais do mesmo. Temos de ir acalmando e percebendo qual é essa forma de consumir menos. Há um foco grande no minimalismo, mas não é essa a nossa visão do mundo. Temos de consumir menos e de perceber como é feito, o que está por trás.

G - Em vez de encher e de atulhar de coisas que não fazem sentido. Isso fez-nos pensar e reflectir num conceito que temos aplicado que é o “pouco feito com muito". Parece uma antítese, mas é feito com muito amor, carinho, tempo, dedicação, respeito, conhecimento.

J - É a garantia de que as coisas que fazemos são feitas com muito. Acreditamos nesse muito: queremos viver muito, queremos muita alegria, muita energia, não partilhamos a visão do mundo pequenina, de só se ter uma coisa.

G - O minimalismo não tem de ser triste e bege. Pode ser feito de muito.

J - Os estrangeiros que passam aqui, dizem sentir falta dessas coisas nos seus países. Nós ainda temos muitas tradições. Se sairmos daqui e formos a São Pedro do Corval, que não fica sequer a duas horas, lá existe esse muito: as pessoas que sabem fazer. Portugal é feito de muito e se soubermos usar o lado positivo deste conteúdo que faz parte da nossa cultura, temos bastante a ganhar e a ensinar aos outros.