Feira Feita               Histórias               Feito em Lisboa
Podes destacar alguns desses projectos?

As coisas mais sonantes são o Convento de Cristo, em Tomar, o Palácio de Sintra, o Palácio da Pena, também em Sintra, um chão dos Jerónimos. O mais lindo e maravilhoso de todos foi uma pequena igreja no baixo Alentejo, no meio da planície, no sítio mais lindo em que já estive. Uma igrejinha branca revestida a azulejo nas paredes, sacristia e tudo, o que não é tão comum no Sul — no Norte, sim. Estivemos dois meses na Primavera e depois no Outono e todos os dias pensava em como era tão bom estar lá. Estávamos numa pequena aldeia, Vila Alva, onde não havia nada. Foi o sítio onde mais gostei de trabalhar. O mar tem um horizonte largo, mas a planície, com todas aquelas cores, também.


Quando é que decidiste passar a fazer réplicas?

Trabalhar em restauro implica, muitas vezes, trazer os azulejos para a oficina. Mas, noutras alturas, são tratados nos próprios locais. Mesmo que possam ser retirados da parede, a maior parte não o será e são tratados in situ. Os que saem podem ser tratados num estaleiro local e isso implica estar dois a três meses fora. Fiz isso até nascer a minha filha, em 2005, mas, a partir daí, mudou um bocado, porque não podia estar não sei quantos meses por aqui e acolá. Foi quando comecei a ficar mais pela oficina. Ainda consegui alguns trabalhos de restauro por Lisboa, quando a Baixa começou a ser reabilitada. Foi quando me comecei a dedicar a fazer réplicas de azulejo, ou seja, não tanto a parte do restauro de obra e de limpezas de argamassas. Pensei: já faço réplicas para as nossas intervenções quando precisavam (maioritariamente os trabalhos que fazíamos eram obras do Estado), vou começar a ficar na oficina e tentar reproduzir azulejos dentro da área em que já estou, conservação e restauro, e pode ser que consiga dar o meu contributo e ir fazendo para particulares. No início fazia as réplicas e conservação, mas depois deixei de querer trabalhar mais em andaimes, no chão, no meio da poeirada... Gosto muito de trabalhar na oficina... o trabalho tem altos e baixos, como sempre. Em 2011 decidi ficar só na oficina e, na verdade, tem corrido muito bem. O azulejo voltou a estar na moda e tive sorte.