Feira Feita               Histórias               Feito em Lisboa

Fazes as placas dos azulejos à mão?

Depende. Por vezes, compro as placas, porque os originais eram industriais e, para que fiquem com o mesmo aspecto, trabalho sobre um azulejo industrial. Mas os azulejos antigos eram feitos à mão e, nesse caso, faço-os sempre à mão. Tenho ali uma mesa, estendo o barro, corto e faço os quadrados. Há casos em que os originais são industriais, mas como já não se encontram chacotas [base de louça já cozida que há-de ser vidrada] da mesma grossura, tenho de as fazer totalmente à mão, de raiz.


Quais são as grandes diferenças entre os industriais e os manuais?

Quando se vê a superfície muito regular de um industrial, não fica tão bonito. É a irregularidade que lhes dá beleza. Os defeitos dos vidrados, as cabeças de alfinete, as bolhinhas, tudo isso lhes dá um caracter único.


Sempre gostaste de azulejos?

Não [ri]. Isto foi tudo um acaso. Na António Arroio nunca fiz um azulejo. Estava em cerâmica e, na verdade, o que gostava mesmo era de modelar, muito mais do que pintar. Gosto de fazer os protótipos para estas coisas, depois a produção poderia alguém fazer por mim [ri]. Gosto muito de coisas tridimensionais e modelar o azulejo em relevo. Na António Arroio nunca fiz nada disto porque existiam dois cursos, o de modelador-moldador e o de pintor e decorador cerâmico. O meu era o primeiro. Como ali era tudo separado por oficinas, nós, na modelação, fazíamos as peças e depois os da pintura usavam-nas. Aprendi lá algumas coisas de modelação e moldes, mas a pintura aprendi no curso do Museu do Azulejo. Uma das disciplinas que tínhamos no curso — e aquilo era um curso bastante completo, com química, história da arte, etc — era uma oficina para aprendermos a fazer réplicas. Aprendi a fazer algumas no curso, mas muita coisa aprendi por mim aqui, a bater com a cabeça nas paredes, a meter no forno e a sair mal...